Carlos Alberto Figueiredo da Silva
Carlos Figueiredo.org
por Carlos Alberto Figueiredo da Silva
Fichamento ou resumo do livro O Imaginário: ensaio acerca das ciências e da filosofia da imagem

1



O Imaginário: ensaio acerca das ciências e da filosofia da imagem
Gilbert Durand

Fichamento realizado por Carlos Alberto Figueiredo da Silva 

Sumário
INTRODUÇÃO
I. O PARADOXO DO IMAGINÁRIO NO OCIDENTE
1. Um iconoclasmo endêmico
2. As resistências do imaginário
3. O efeito perverso e a explosão do vídeo

II. AS CIÊNCIAS DO IMAGINÁRIO
1. As psicologias das profundezas
2. As cinfirmações anatomofisiológicas e etológicas
3. As sociologias do selvagem e do comum
4. As "Novas Críticas": da mitocrítica à mitoanálise
5. O imaginário da ciência
6. Os confins da imagem e do absoluto do símbolo: homo religiosus

III. O BALANÇO CONCEITUAL E O NOVO MÉTODO PARA A ABORDAGEM DO MITO
A/ O alógico do imaginário
1. O pluralismo e as classificações
2. A lógica do mito
3. A gramática do imaginário


B/ A tópica sociocultural do imaginário

C/ A dinâmica do imaginário: a bacia semântica

CONCLUSÃO

INTRODUÇÃO
"A civilização da imagem"
As civilizações não-ocidentais nunca separam as informações fornecidas pelas imagens daquelas fornecidas pelos sistemas de escrita. Exemplo: A escrita japonesa, chinesa, os hieróglifos etc.

Civilizações
Ocidental - Verdade única, absoluta
Não-Ocidental - Fundamentos pluralistas

Verdade Única - fundamentada pelo
a)Raciocínio socrático (binário - silogismo - ou....ou)
b)Batismo cristão (monoteísmo - só um Deus)

Esta verdade quase sempre desafiou as imagens (as destruiu) - Este é o paradoxo!

I. O PARADOXO DO IMAGINÁRIO NO OCIDENTE
Um iconoclasmo endêmico
O monoteísmo da Bíblia - A proibição de criar imagens
Verdade - Método socrático - Lógica binária (Falso/Verdadeiro)
Verdade unida ao iconoclasmo

Aristóteles (Fatos/Experiência/Raciocínio Binário ) - Há um terceiro excluído

A lógica aristotélica exige claridade e diferença

A imagem não se enquadra no silogismo e no raciocínio binário

A imagem propõe uma realidade velada (sedução) - Cf. Jean Baudrillard. Da Sedução.

A construção do iconoclasmo
1º momento: A partir do século 8, os imperadores de Bizâncio destroem as imagens durante 2 séculos temerosos da iconoclastia Islâmica.
2º momento: A escolástica medieval
São Tomás de Aquino concilia o Racionalismo Aristotélico com a Fé.
3º momento: Galileu e Descartes
A Razão como único acesso à Verdade
A partir do século 17 o Imaginário é excluído dos processos intelectuais
No século 18 surge o Empirismo Factual (delimitará os fatos e fenômenos)
4º momento: Ainda estamos nele
O Fato aliado ao Argumento Racional cria obstáculos para o Imaginário como outra forma de visão do mundo.

2 tipos de fato:
a) Percepção (observação e experiência & eventos relacionados aos fatos históricos)
b) ?

Kant cria um limite para o que pode ser explorado; o resto é Metafísica.

Positivismo = Empirismo (fato) + Racionalismo (iconoclasmo). Isto desvaloriza o Imaginário (o conhecimento pela semelhança, pela metáfora).

O Positivismo vai fundamentar:
a)Cientificismo - Só reconhece a verdade comprovada por métodos científicos.
b)Historicismo - Doutrina que só reconhece causas reais expressas de forma concreta por um evento histórico.

Constitui-se então o poder do ADULTO BRANCO CIVILIZADO em detrimento dos outros.

As resistências do imaginário
1ª resistência: Platão admite uma terceira via de acesso à verdade que vai além da dialética, e assim animará outros a buscar esse caminho.
2ª resistência: João, o Damasceno (sec. 8) defendeu as imagens. Surge a reabilitação das imagens no cristianismo, com a introdução de variantes politeístas no monoteísmo (Os Santos).
A estética das igrejas católicas:
a) Bizâncio vai focalizar a imagem do homem santificado;
b) Roma vai focalizar as imagens da natureza nas pinturas religiosas (influência da cultura céltica).
Roma resgata a imagem do homem natural, mas, por outro lado, há um retorno ao paganismo. Surge então a Reforma Protestante, pois houve uma contaminação humanista na igreja. A Reforma combate as imagens e cultua a música e as escrituras sagradas, tal qual faz o Islamismo.
3ª resistência: Surge a Contra-Reforma. Para diminuir a força da música e do texto literário do protestantismo, o Barroco e o Trompe-l'oeil se instauram nas imagens da igreja católica.
4ª resistência: O Romantismo alemão resiste ao racionalismo positivista.
Delineia-se então o movimento da "Arte pela Arte". Apesar de consolidar o território imaginário (6º sentido) esse movimento não vai além da perfeição imanente das imagens. É preciso esperar a Corrente Simbolista para desprezar a perfeição formal e elevar a imagem icônica poética, até musical, a vidência e conquista dos sentidos.

O efeito perverso e a explosão do vídeo
A imagem sedutora e a Mídia - (ver Jean Baudrillard)
A imagem midiática dita intenções de produtores anônimos ou ocultos, velando a idelologia da propaganda.

II. AS CIÊNCIAS DO IMAGINÁRIO
As psicologias das profundezas
Os bastiões de resistência dos valores do imaginário no seio triunfante do cientificismo racionalista são: Romantismo - Simbolismo - Surrealismo

A descoberta do inconsciente - Freud comprova o papel das imagens como mensagens que afloram do inconsciente.

Jung - Animus/Anima. Pluraliza a libido freudiana. Seus seguidores pluralizam as matrizes arquetípicas.

Yves Durand- AT9. Estruturas do imaginário: 3 classes
a) Separar (heróica)
b) Incluir (mística)
c) Dramatizar (disseminadora)

As confirmações anatomofisiológicas e etológicas

Confirmações "científicas" de que no homem as informações são controladas pelo terceiro cérebro e assim tais informações passam a ser indiretas. Não há relação direta do homem com o mundo. Todo pensamento humano é uma re-presentação, i. e., passa por articulações simbólicas e o imaginário é o conector.

Articulações simbólicas: Diurnas/Noturnas

A formação lenta do cérebro humano ( o território do habitus) - Requer a educação dos sistemas de simbolização.

As sociologias do selvagem e do comum

O reencantamento da sociologia que passa pelo imaginário, fundamentando-se num conhecimento comum (ver Alain Coulon, Etnometodologia; Garfinkel, Studies in ethomethodology; Mary Douglas, Pureza e Perigo).

As "Novas Críticas": da mitocrítica à mitoanálise

Apesar da crítica historicista, Bachelard não se deixa encantar pelo estruturalismo, onde os poderes poéticos da imagem se perdem de novo nos mistérios de um sistema que esvazia a pluralidade antropológica em prol deste novo monoteísmo que é a estrutura abstrata.

Lévi-Strauss apesar de estruturalista apontará a qualidade essencial do sermo mythicos.
Mito não é Discurso (para demonstrar)
Mito não é Narrativa (para mostrar)
Mito serve-se das instâncias de persuasão indicadas pelas variações simbólicas sobre um tema ( Os Mitemas)

 Mitemas - São a menor unidade semântica num discurso e que se distingue pela redundância.

Sincronia - Enxames, pacotes e constelações de imagens
Diacronia - Fio temporal do discurso

O imaginário da ciência
O pensamento científico atual vê-se constrangido em pedir auxílio ao imaginário.

Os confins da imagem e do absoluto do símbolo: homo religiosus No ocidente, o religioso e o profano passaram pelas mesmas perversões positivistas e materialistas.

O esforço dos teólogos foi conciliar as verdades da fé e fundamentá-las em fatos históricos positivos.

A trans-história por detrás de todas as manifestações da religiosidade na história.

O movimento pós-moderno da ressureição so símbolo pelo cristianismo.

III. O BALANÇO CONCEITUAL E O NOVO MÉTODO PARA A ABORDAGEM DO MITO
A/O alógico do imaginário

O pluralismo específico e as classificações

O princípio da identidade exclusiva exclui qualquer terceiro elemento. Repousa sobre o silogismo. Assenta-se sobre formas a priori da percepção. A identidade - ficha de estado civil: fixa o objeto no tempo e o circunscreve no espaço. (ver texto de Paul Dimeo)

No pluralismo, espaço e tempo são diferentes. Passado e futuro independem entre si Os eventos são passíveis de reversão (os pré-socráticos já falavam disso)

A identificação não reside mais num sujeito ou objeto, mas na trama relativa dos atributos que constituem o sujeito ou o objeto.

A 2ª tópica de Freud substitui a 1ª. Substitui-se também o Diurno/Noturno. Pierre Gallais acrescenta 2 outros valores às oposições exclusivas e acrescenta a disjunção e a conjunção.

A lógica do mito

Deus não vive sem o Diabo - O Herói depende do Monstro

A origem da coerência dos plurais do imaginário encontra-se na sua natureza sistêmica, e esta por sua vez, funda-se no princípio do terceiro dado.
O princípio da redundância
Metáfora e Metonímia - Metonímia generalizada (ver Laplanche, Teoria da sedução generalizada)
O imaginário é alógico

A gramática do imaginário
O substantivo deixa de ser o determinante, dando lugar aos adjetivos e sobretudo à ação expressa pelo verbo. É o nível verbal que desenha a verdadeira matriz arquetípica. Exemplo: Amarelo - Amarelão - Amarelar

B/A tópica sociocultural do imaginário

Contradições sociais

SUPEREGO (empobrecimento do imaginário)

EGO (regularização do imaginário - jogo social - habitus)

ISSO (esboço confuso do imaginário - inconsciente coletivo - inconsciente específico)

Dimensão temporal

Os 2 grandes mitos antagônicos do sec 20
a) Prometeu - Na superfície triunfante
b) Mito Alquímico hermetista - Nas profundezas

Imaginário: Atualizado (manifesto) & Potencializado (latente)

O imaginário atualizado reprime o imaginário potencial

C/A dinâmica do imaginário: a bacia semântica

As mudanças numa sociedade têm normas e regras

Bacia semântica: em qualquer conjunto imaginário delimitado sob os movimentos gerais oficiais institucionalizados transparece uma eflorescência de pequenas correntes descoordenadas, disparatadas e frequentemente antagonistas. Elas ressurgem no setor marginalizado. Testemunham a usura de um imaginário localizado cada vez mais imobilizado em códigos, regras e convenções.

Bacia semântica: fases
1. Escoamento
2. Divisão das águas
3. Confluências
4. O nome do Rio
5. Organização dos rios
6. Os deltas e os meandros